Um belo dia eu lembrei que eu adoro quadrinhos e que por ventura eu estou morando nos Estados Unidos onde por acaso esse tipo de obra é acessÃvel. Me sentindo feito um babaca trancado num quarto escuro num dia de sol eu resolvi dar uma chance aos quadrinhos daqui. Mais especificamente aos quadrinhos de super-heróis.
Apesar de eu gostar mais de quadrinhos europeus e nipônicos, eu já li alguma coisa de quadrinhos americanos, de Disney a Will Eisner, só que eu sempre ignorei os de super-heróis. Sempre achei difÃcil levar a sério alguém com super-poderes desproporcionais ou com cueca por cima da calça. Foram as adaptações pro cinema (sobretudo o Watchman do Zack Snyder e os Batmans do Christopher Nolan) que me despertaram a curiosidade de ler quadrinhos de super-heróis outra vez.
Dito isto, eu deixo claro que sou um aventureiro neófito no universo dos quadrinhos de super-heróis. Assim como eu não acho crÃvel as pessoas cantarem e sapearem no meio da rua mas faço um concessão poética ao assistir musicais eu farei uso do mesmo artifÃcio para aceitar os super-poderes e uniformes dos super-heróis. Munido disto eu fui procurar por onde começar e todos os dedos apontaram numa pilha de tÃtulos que incluem o tal Superman: Red Son de Mark Millar.
Todo o rico enredo parte da premissa “E se o Super-Homem tivesse crescido na União Soviética?”.
Não é uma premissa nada absurda se você lembrar as circunstâncias que o Super-Homem chegou à Terra. Você provavelmente sabe que o Super-Homem, então um bebê alienÃgena chamado de Kal-El vindo do planeta Krypton, ele chegou por aqui em uma cápsula espacial. Onde essa cápsula espacial caiu? Nos Estados Unidos, mais precisamente no Kansas na cidade de Smallville. Mesmo uma pequena diferença no ângulo de entrada na atmosfera ou na velocidade da nave, fariam toda a diferença. No caso do Superman: Red Son, a capsula caiu na União Soviética.
(Já parou pra pensar que o Super-Homem, o herói dos Estados Unidos da América, é um imigrante ilegal? Não tem nada a ver com Red Son mas foi algo percebi durante a leitura.)
Eu vou me abster de qualquer detalhe além dessa premissa para não ir além do que já está explÃcito na capa ou nas primeiras páginas. Eu posso garantir que as consequência da premissa exposta acima vão muito além do uniforme do Super-homem. Eu também posso revelar que essa é a história em quadrinhos de super-heróis mais alucinante e inteligente que eu já coloquei as mãos até hoje. O roteiro é só envolvente e cheio de sacadas geniais. Há muitas referencias ao universo dos super-heróis, eventos polÃticos, e auto-referencias que você precisa ler novamente pra perceber (e ainda assim sem estragar a primeira leitura). E tem um final… um final, que eu só posso fizer que o final é capaz de explodir sua cabeça e espalhar seus miolos por toda a sala.
A edição de capa de papel tem 160 páginas (podia ter muito mais) e custa cerca de 12 obamas. Há também uma edição de capa dura para colecionadores que eu muito provavelmente serei obrigado a comprar. Há também uma versão em “revista em quadrinhos animada” (um espécie de desenho animado com defeitos de formação) mas eu recomendo você ir direto pro quadrinho. Isso só mostra a plasticidade dessa história e como é possÃvel adaptar ela para outras mÃdias. A história é tão rica que poderia ser quebradas em várias outras obras. Kick-Ass, outro quadrinho do Mark Millar já foi adaptada para o cinema antes.
Superman: Red Son me mostrou que quadrinhos de super-heróis podem ser bem mais do que eu pensava antes. É uma obra com começo meio e fim, e fechada em si própria, ela é suficiente para ser lida mesmo que você, assim como eu, não conheça muito sobre o universo dos super-heróis. O traço e as cores são lindos também. Eu recomendo muito que você coloque as mãos em um exemplar e permita sua mente explodir também.